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Museu de Porto Alegre encerra exposição sobre diversidade sexual após ataques em redes sociais

11/09/2017 Fonte: G1/RS

O museu do Santander Cultural, em Porto Alegre, foi fechado e a exposição em cartaz, denominada Queermuseu, foi cancelada, neste domingo (10), após ataques registrados nas redes sociais e no interior da exposição nos últimos dias.

Em comunicado no Facebook, a instituição afirmou que "o objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia". A exposição entrou em cartaz no dia 15 de agosto e ficaria até o dia 8 de outubro. (leia íntegra da nota abaixo)

Algumas imagens entre as mais de 270 obras, de 90 artistas plásticos, foram consideradas ofensivas por quem contextou a exposição, que classificaram o conteúdo como um "incentivo à pedofilia, zoofilia e contra os bons costumes".

As mensagens, de tom exaltado, incentivam a protestos contra o banco. A exposição Queermuseu, de acordo com a própria instituição, é uma iniciativa inédita que explora a diversidade de expressão de gênero e a diferença na arte e na cultura em períodos diversos.

A assessoria de imprensa do Santander Cultural informou que alguns visitantes chegaram a tentar filmar as obras, o que é proibido.

G1 tentou contato com o curador da Queermuseu, Gaudêncio Fidelis, mas ele preferiu não se manifestar, pois entende que a posição do banco esclarece o cancelamento suficientemente.

Somente a entrada do museu ficou fechada neste domingo. O café, o cinema e a loja no interior do Santander Cultural receberam o público normalmente. O museu deve voltar a ser aberto, em novembro, com uma nova exposição.

 

Para coordenador de ONG, decisão é "uma vergonha"

 

"Quando sofreram na pele o que a população LGBT sofre todo dia, fizeram a opção de não bancar e cancelar a exposição". Esta é a opinião de Gabriel Galli, jornalista e coordenador da ONG Somos, que defende os direitos igualitários para a população LGBT. "O Somos fica com vergonha dessa situação."

E as críticas levantadas sobre as obras da Queermuseu são infundadas, na visão de Gabriel. "Com todo o respeito, [as críticas] vêm de pessoas que não fizeram um esforço mínimo pra compreender o que a obra queria dizer". Sobre uma suposta ofensa ao cristianismo, Gabriel fala que as obras da exposição questionam o papel da religião na sociedade, o que não deve ser considerado como um ataque.

E sobre acusações de incentivo à pedofilia, Gabriel explica o que seria um mal-entendido. "Uma das obras fala em "criança viada". Isso é uma piada, que surgiu de um jornalista que fez brincadeiras com suas fotos de criança. Encarar isso como pedofiliar é muito absurdo", esclarece. Na visão dele, a conexão entre gays e transexuais com casos de pedofilia já vem de anos, mas é absurda. "Isso é uma crítica muito baixa".

 

"Não há obras que tenham aspectos que possam chocar", opina Gabriel, sobre o Queermuseu. "E mesmo que houvesse, arte é pra isso".

 

A ONG Somos, juntamente com outras organizações de defesa da diversidade sexual, irá promover um ato de protesto, em frente ao Santander Cultural na terça-fera (12). Além disso, eles preparam uma nota de repúdio ao cancelamento da exposição.

Leia a íntegra da nota publicada no Facebook do Santander Cultural

Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição Queermuseu - Cartografias da diferença na Arte Brasileira. Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra.

O objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia. Nosso papel, como um espaço cultural, é dar luz ao trabalho de curadores e artistas brasileiros para gerar reflexão. Sempre fazemos isso sem interferir no conteúdo para preservar a independência dos autores, e essa tem sido a maneira mais eficaz de levar ao público um trabalho inovador e de qualidade.

Desta vez, no entanto, ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana.

O Santander Cultural não chancela um tipo de arte, mas sim a arte na sua pluralidade, alicerçada no profundo respeito que temos por cada indivíduo. Por essa razão, decidimos encerrar a mostra neste domingo, 10/09. Garantimos, no entanto, que seguimos comprometidos com a promoção do debate sobre diversidade e outros grandes temas contemporâneos.


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