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Dinheiro de telas pintadas por alunos de escola pública de Porto Alegre será revertido em ventiladores para salas de aula

17/09/2018 Fonte: G1 RS

Estudantes de uma escola estadual de Porto Alegre receberam uma notícia que virou motivo de comemoração: vão ganhar ventiladores para as salas de aula. É que a Escola Branca Diva Pereira de Souza, na Zona Norte da capital, não tem um equipamento sequer para atender os 120 alunos matriculados. A diretora da instituição conta que, especialmente no verão, o calor fica insuportável e atrapalha o andamento das aulas.

"A escola é muito antiga, tem 60 anos. Nossa parte elétrica queima as coisas muito rápido, porque são muito antigas as instalações", explica Meri Jussara Pereira da Silva, diretora da escola.

Os equipamentos novos devem chegar ao colégio nos próximos dias, quando também será lançada a exposição "Arte para comprar ventilador". A conquista foi possível graças à disposição de um artista plástico gaúcho e participação dos alunos. Convidado pela escola, Aloizio Pedersen promoveu nove oficinas de pintura para turmas do 1º ao 9º ano.

O resultado dessa brincadeira? Nove telas de 1m20 x 70cm, todas coloridas pelos alunos. Pedersen teve a ideia de colocá-las à venda num site de redes sociais para que o dinheiro arrecadado ajudasse a escola de alguma forma. Rapidamente, as obras foram vendidas a R$ 150. Uma delas foi adquirida pela diretora da própria instituição.

O artista pensou em reverter o valor para algo que os estudantes desejassem. A resposta surpreendeu, como lembra a diretora da escola.

 

"Eu disse para as crianças: 'o que que vocês querem?' A maioria pediu ventilador."

 

 
Artista plástico Aloizio Pedersen ensina técnicas de pintura a turmas de escola estadual  — Foto: Arquivo PessoalArtista plástico Aloizio Pedersen ensina técnicas de pintura a turmas de escola estadual  — Foto: Arquivo Pessoal

Artista plástico Aloizio Pedersen ensina técnicas de pintura a turmas de escola estadual — Foto: Arquivo Pessoal

Para encerrar a atividade, uma vernissage, encontro prévio à inauguração de uma mostra de arte, está marcada para o dia 19 de setembro. Os trabalhos serão expostos na escola, e os alunos-artistas farão uma apresentação. Também neste dia, os ventiladores serão entregues.

Depois, uma mesa de doces e refrigerantes, também doados via redes sociais, será oferecida aos alunos e familiares em homenagem à conquista. A exposição vai durar duas semanas e, depois, as obras serão entregues aos compradores. "Ficaram telas maravilhosas! Eu achei cada turma mais encantadora que a outra. Achei que as crianças têm um potencial incrível", vibra Pedersen.

Para os estudantes, foi uma oportunidade única. "Acredito eu que a maioria dos alunos não tem contato com arte fora da escola, porque, normalmente, a gente que tem que ir atrás, os artistas não vêm atrás da gente, isso dificulta um pouco", opina a aluna do 8º ano Viviane Rocha Gastring.

O artista foi professor, teve ateliê durante duas décadas e, nos últimos anos, recebeu dois prêmios pelo trabalho que faz na Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). Fazer trabalho voluntário não estava nessa lista. Só que desta vez, ele decidiu dividir seu tempo e conhecimento com os jovens sem cobrar nada por isso. Foi ele também que comprou as telas, tintas acrílicas e guache, além de spray sintético para proteção das obras, e levou tudo para a escola.

 

“A pessoa me disse que eram crianças da Vila dos Papeleiros, aí meu coração se derreteu”, confessa Pedersen.

 

Antes de pegarem os pincéis, os alunos assistiram a um vídeo que mostra o trabalho pintor norte-americano Jackson Pollock, referência no movimento do expressionismo abstrato. Eles aprenderam a técnica do dripping e a teoria da cor-emoção criada pelo artista plástico Wassily Kandinsky.

"Eu nunca tinha participado de algo assim, foi uma experiência bem legal. A gente tem Artes [a disciplina], mas não desse jeito. Foi diferente, um diferente legal", define a aluna Viviane.

Depois de aprenderem a técnica, os jovens foram convidados a expressarem seus sentimentos na tela. Por meio da cor, o artista trabalhou com os jovens questões como desigualdade, violência e bullying.

"Trabalho a cor e a emoção dessa cor. Quando a criança escolhe uma cor, eu sei o que está passando por dentro dela. Tudo aquilo que tu não consegue dizer por palavras, justamente para essas crianças vulneráveis, a arte dá essa expressão", define o artista.

 
Alunos expressaram seus sentimentos através de cores na tela — Foto: Arquivo PessoalAlunos expressaram seus sentimentos através de cores na tela — Foto: Arquivo Pessoal

Alunos expressaram seus sentimentos através de cores na tela — Foto: Arquivo Pessoal


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